Por que eu me angustio?
No estudo realizado por Ellen Silva e Carmem Barreto em 2020, intitulado “Angústia como constitutiva da existência: ressonâncias para a clínica psicológica”, as autoras apresentam diferentes perspectivas em que se pode conceber a angústia na atualidade. Na visão da psicopatologia a angústia é definida como sintoma de um adoecimento mental. Para a psicanálise é tida por um elemento estruturante do ser. E para a neurociência é uma tensão psicológica que se relaciona com disfunções do aparelho cognitivo.
Vale salientar que só é possível a tentativa de compreensão sobre o que é a angústia pelo fato de sua manifestação como um fenômeno da existência humana. Apenas na experiência de angustiar-se diante da própria existência é que se torna possível olhar para ela como algo acontecendo em si mesmo.
As autoras apresentam questionamentos feitos pelo filósofo Comte-Sponville em 1997: “O que é mais angustiante que nascer? O que é mais angustiante que viver? O que é mais angustiante que morrer? Que é a angústia, senão esse sentimento em nós?”
Em Ser e Tempo Heidegger aponta a angústia como uma das possibilidades mais originárias do ser, pois é através da angústia que o homem pode se apropriar da sua existência. Existir remete a todas as possibilidades humanas. Viver coloca o homem sob o risco de ter de lidar com a vida como ela acontece, com as possibilidades dos fracassos, dos desafios, limites e dificuldades que o homem se deparará pelo caminho, assim como as possibilidades dos recomeços, das transformações e conquistas que poderá alcançar. Estar lançado diante de todas as possibilidades, é angustiar-se pelo não saber, pelo não controle, pelo incerto que a vida é, e principalmente pela única certeza que se tem, a própria finitude.
As autoras assinalam que “aprender a conviver com a angústia é aprender acerca de si mesmo”. E é nesse caminho que a clínica psicológica se abre como espaço para acolher o modo como cada um vivencia em si a angústia de lidar com as possibilidades da própria existência.
Na atualidade tem sido muito comum a utilização de técnicas e métodos que buscam a ofuscação da revelação da angústia, no entanto as autoras pontuam que a situação clínica pode se mostrar como “possibilidade de acolher ao que há de alheio na “era da técnica”: a angústia, as diversas mostrações de sofrimento, o silêncio, os paradoxos de existir”.
Suelane Alves - psicóloga
CRP 02/16654