Ghebreyesus, atual diretor da Organização Mundial de Saúde no Plano de Ação de Saúde Mental 2013-2030 falou: "Não existe saúde sem saúde mental". O Plano visa uma atenção e transformação às práticas de saúde mental no mundo, visto que segundo acompanhamento da OMS, dados referentes ao processo de adoecimento mental têm crescido significativamente, bem como o acesso aos serviços e o cuidado das populações acometidas por algum nível de sofrimento mental se mostra ainda escasso, revelando desse modo a necessidade de maior atenção neste âmbito.
É fato que o desconhecimento sobre os processos de “saúde e adoecimento mental”, bem como o desconhecimento de que a saúde mental integra nossa saúde total, causa estigmas e preconceitos, o que distancia a busca pelos cuidados nesse aspecto, fazendo com que silenciemos situações de adoecimento e sofrimento, obrigando-nos a viver nossas vidas como se nada nos acometesse. Fato que favorece o encobrimento do sofrimento podendo desencadear prejuízos pessoais e sociais cada vez mais intensos. E nos levando ao topo dos nossos limites até conseguirmos redirecionar o nosso cuidado.
Por esse caminho o cuidado psicológico pode aparecer como uma via favorável ao cuidado da saúde mental, não sendo a única via, mas surgindo como uma abertura no reconhecimento da necessidade de ajuda.
O modo como temos vivido o mundo contemporâneo, tem colaborado para que nos distanciemos das questões que nos levam a uma apropriação daquilo que somos. Cada vez mais difundidos em distrações, ocupações e excessos, nem sempre abrimos ou conseguimos abrir oportunidade para compreendermos nossa existência.
Em um estudo de 2021, intitulado “A angústia existencial como disposição afetiva fundamental para a prática psicoterápica” Oliveira e colaboradores falam que a clínica psicológica se movimenta de modo que o paciente seja convidado a refletir sobre o cuidado com o seu próprio existir, podendo assim, se aproximar da realização de seu poder-ser mais próprio.
Ressalta-se aqui, que a clínica psicológica não se restrinja apenas ao psiquismo ou ao patologismo, mas que seja uma clínica comprometida com as questões ético-políticas que se referem a trama do existir, visto que ninguém existe sozinho, mas que estamos lançados num mundo o qual somos afetados e afetamos.
Assim, a clínica psicológica aparece como possibilidade da realização do cuidado de si com a disposição do estar junto dx profissional psicólogx neste processo de cuidar, considerando todos os aspectos que permeiam a existência daqueles que buscam o cuidado.
Suelane Alves - psicóloga
CRP 02/16654